sábado, 26 de janeiro de 2008







Ontem às onze fumaste um cigarro
encontrei-te sentado
ficámos para perder todos os teus eléctricos
os meus estavam perdidos por natureza própria Andámos dez quilómetros a pé ninguém nos viu passar excepto claro os porteiros
é da natureza das coisas ser-se visto pelos porteiros
Olha como só tu sabes olhar a rua
os costumes o público
o vinco das tuas calças está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas nisso
Não faz mal
abracem-me os teus olhos de extremo a extremo azuis vai ser assim durante muito tempo decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes não te importes muito nós só temos a ver com o presente perfeito corsários de olhos de gato intransponível maravilhados maravilhosos únicos nem pretérito nem futuro temo
estranho verbo nosso

Mário Cesariny

http://www.youtube.com/watch?v=ExyRMqX8eOA&feature=related

domingo, 13 de janeiro de 2008


"um dia houve que nunca mais avistei cidades crepusculares e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta inclino-me de novo para o pano deste século recomeço a bordar ou a dormir tanto faz sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade " Al berto

Mas a ti vai visitar...



terça-feira, 8 de janeiro de 2008


"Quero acordá-la. E digo : «não me deixes morrer, não deixes...» Penso para comigo, repito para me convencer: «esta pequena mão, âncora de carne em vida, estas amarras suas veias artérias palpitantes, este peso dum corpo e este calor, não me deixarão partir ainda...» E aperto-lhe a mão com força, e acabo às vezes por adormecer assim, quase confiante, agarrado à sua vida. Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, a velha terra-mãe, eu sei, eu sei ! São elas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade na espécie (nem teremos outra) pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei...) "
Comunidade de Luiz Pacheco


Uma homenagem às mulheres do escritor maldito.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008


Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive


Ricardo Reis

Uma boa máxima para o ano que se aproxima...